segunda-feira, 14 de maio de 2007

CARTA PÚBLICA

Carta pública a respeito da cobertura da imprensa às atividades pela legalização da Cannabis sativa e outras substâncias psicoativas realizadas em diversas cidades do Brasil, entre os dias 4, 5 e 6 de maio de 2007.

As centenas de pessoas que foram às ruas do Rio de Janeiro, nas duas passeatas realizadas nos últimos dias 4 e 6 de maio, em meio a tantas polêmicas, controvérsias e discursos preconceituosos em relação ao tema, mostraram que o país, ainda que apoiado por uma imprensa mais comprometida com a venda de exemplares e com a audiência do que com dados científicos realmente relevantes, consegue aceitar as diferenças e tolerar a exibição democrática da pluralidade existente na sociedade brasileira.
Ao recortar as imagens de pessoas fumando, dar ênfase às polêmicas dos discursos embasado em slongans como "sequelado", "maconheiro" , etc, e limitar a realidade aos 300 participantes declarados pela Polícia Militar para a Marcha a Maconha do dia 6 (explicitamente em contradição com todos os depoimentos de participantes e organizadores, com as imagens dos vídeos e fotos, que relataram de 800 a 1.200 pessoas), a imprensa brasileira procura vender as notícias sobre os consumidores de derivados de Cannabis e sobre o movimento de legalização como um ato de "doidões", "maconheiros" , sem fundamentação em lutas políticas legítimas. Tais atitudes caminham para a negação do histórico das ações empreendidas e apoiadas há alguns anos por coletivo, núcleos de estudo e pesquisa, associações, ONG´s, por grupos de redução de danos, pelo Movimento Estudantil e por outras instituições, que tem realizado diversos ações, com ou sem passeatas, afirmando a necessidade de se discutir a adoção de políticas públicas e legislações mais tolerantes.
Alguns relatos de eventos ocorridos no mesmo período em todo país, a exemplo do I Seminário "Maconha na Roda”: políticas públicas em diálogo com a sociedade civil, realizado em Salvador, ou do semináro Drogas e Sociedade: na contra-mão da pré-história, realizado em Porto Alegre, dão uma amostra de que o discurso pela legalização da planta é muito mais profundo do que o que se tenta mostrar. Isto sem falar em atividades com pouca ou nenhuma cobertura midiática, como as ocorridas nas cidades de Juiz de Fora, Pelotas e Curitiba, além de centenas outras, ao redor de todo o mundo.
De fato, a maioria das pesquisas afirma que mais de 90% das pessoas que usam Cannabis habitualmente não fuma diariamente, nem mesmo durante todo o dia, e por isso não estão sob o efeito farmacológico da substância durante todo o tempo em suas vidas, nem ao menos curtindo a experiência prazerosa desses efeitos. Por isso, as idéias e o discurso relacionado às reivindicações pela legalização da planta Cannabis Sativa não podem ser consideradas como "viajem de doidões", ou mesmo classificadas como efeitos farmacológicos da substância. Ao contrário, mesmo o discurso nesse sentido que nasce e circula apenas entre as pessoas que consomem a planta é fruto das experiências pessoais com a violência e repressão, geradas pela adoção de políticas públicas e legislações proibicionistas, e não das experiências psicoativas com a Cannabis.
Por outro lado, a maioria dos relatos que circularam na imprensa sobre as manifestações procuraram dar um tom que faz parecer com que os diversos pesquisadores, dentro e fora do país, que abertamente defendem a adoção de políticas públicas e legislações sobre drogas mais tolerantes, amparam seus discursos apenas na complacência e ou conivência com o discurso dos supostos "doidões", e não nos dados e referentes às diversas experiências com políticas alternativas que têm sido empreendidas com sucesso em vários países no mundo, bem como nas pesquisas mostrando a relação entre os custos e os resultados das políticas proibicionistas e das políticas mais voltadas para a redução de danos e prevenção.
Fica o apelo para que as instituições e grupos voltados para a produção de informações jornalística, atualmente o principal veículo condutor do conhecimento para a sociedade brasileira, ao procurarem abordar quaisquer temas relacionadas às drogas, ou mesmo apenas à legalização, procure ouvir os muitos cientistas e profissionais relacionados ao tema no país, em toda a sua diversidade, que sempre estiveram abertos ao diálogo.

Um comentário:

  1. Não sei não....mas me pareceu que teve muito jornalista lá na marcha do Rio, que só cobriu a concentração.

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