terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O uso do cannabidiol (CBD) para o tratamento de eplepsia

  1. O que é o cannabidiol?
    Cannabis sativa é uma planta que contém aproximadamente 60 compostos farmacologicamente ativos (figura 1). O cannabidiol é um destes componentes, foi identificado em 19631. Tem as características de ser não psicoativo (não causa alterações psicosensoriais) e de ter baixa toxicidade e alta tolerabilidade em seres humanos e animais2.
    Figura 1. Planta Cannabis sativa
    Figura 1. Planta Cannabis sativa
  2. Como os canabinóides agem no cérebro?
    Os canabinóides agem no corpo humano pela ligação com seus receptores. No sistema nervoso central o receptor CB1 é altamente expresso, localizado na membrana pré-sináptica das células3. Estes receptores CB1 estão presentes tanto em neurônios inibitórios gabaérgicos quanto em neurônios excitatórios glutamatérgicos4. O cannabidiol age no receptor CB1 inibindo a transmissão sináptica por bloqueio dos canais de cálcio (Ca2+) e potássio (K+) dependentes de voltagem3. Desta forma, acredita-se que o cannabidiol  possa inibir as crises (figura 2).
    Figura 2. Molécula cannabidiol
    Figura 2. Molécula cannabidiol
    Já o maior derivado psicoativo da cannabis é o ∆9-tetrahydrocannabinol que causa efeitos psicosensoriais e atua como agonista parcial dos receptores CB1, estimulando-os5. 
  3. Quais os primeiros casos relatados do uso de cannabidiol em seres humanos?
    Em um estudo realizado na Escola Paulista de Medicina, Cunha et al. (1980) avaliaram o efeito do cannabidiol em 15 indivíduos com diagnóstico de epilepsia focal temporal com generalização secundária. Durante 4 meses, 8 destes receberam 200 a 300 mg de cannabidiol e os outros receberam placebo. Quatro dos indivíduos que receberam cannabidiol ficaram livres de crises, 3 melhoraram e em 1 a substância não modificou as crises epilépticas. Os 7 indivíduos que receberam placebo ficaram com suas crises inalteradas6.
  4. O cannabidiol é realmente eficaz para tratamento das crises epilépticas?
    Não há até o momento conclusão sobre a eficácia do cannabidiol no tratamento das epilepsias7. Há alguns relatos de estudos com poucos pacientes com resultados satisfatórios, porém são necessários estudos com maior número de pacientes para uma adequada avaliação da eficácia terapêutica desta substância em curto e longo prazos, assim como perfil de possíveis eventos adversos.  Na atualidade um estudo (ensaio clínico) está sendo realizado em crianças com epilepsia refratária ao tratamento medicamentoso nos EUA, mas os resultados ainda não foram liberados.
  5. Qual a quantidade de cannabidiol presente nos produtos comercializados em alguns países?
    A quantidade de cannabidiol é variável nos diversos produtos nos países em que é vendido. Veja a respeito  desse tema a tabela abaixo adaptada do artigo de Koppel et al. publicado na revista Neurology neste ano (2014) 1.
    Quantidade de cannabidiol presente nos produtos comercializados em alguns paises
    Quantidade de cannabidiol presente nos produtos comercializados em alguns paises
  6. Quais estudos estão sendo realizados atualmente com o cannabidiol?
    Em dezembro de 2013 o Food and Drug Administration (FDA) aprovou nos Estados Unidos o uso terapêutico do cannabidiol em pesquisas para tratamento de epilepsias refratárias em crianças. Um grupo da University of California e outro da New York University School of Medicine receberam autorização para iniciar suas pesquisas8

Referências

  1. Koppel, BS; Brust, JCM; Fife, T. Systematic review: Efficacy and safety of medical marijuana in selectec neurologic disorders: Report of the Guideline Development Subcommittee of The American Academy of Neurology. Neurology 2014; 82: 1556-1563.
  2. Jones, NA; Glyn, SE; Akiyama, S. Cannabidiol exerts anti-convulsant effects in animal models of temporal lobe and partial seizures. Seizure 2012; 21: 344-352.
  3. Hofmann, ME; Frazier, CJ. Marijuana, endocannabinoides, and epilepsy: Potential and challenges for improved thereutic intervention. Experimental Neurology 2013; 244: 43-50.
  4. Lutz, B. On-demand activation of the endocannabinoid system in the control of neural excitability and epileptiform seizures. Biochem Farmacol 2004; 68: 1691-1698.
  5. Cilio MR, Thiele EA, Devinsky O. The case for assessing cannabidiol in epilepsy.  Epilepsia, **(*):1–4, 2014.
  6. Cunha, MJ; Carlini, EA; Pereira, AE. Chronic administration of cannabidiol to healthy volunteers and epileptic patients. Pharmacology 1980; 21: 175-185.
  7. Gloss, D; Vickrey, B. Cannabinoids for epilepsy. The Cochrane colaboration 2014.
  8. Hughes, S. FDA Approves Cannabis Extract Study in Pediatric Epilepsy. Disponível em:http://www.medscape.com/viewarticle/817701; 2013.

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