terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Breve História do cultivo e uso da maconha para fins medicinais

Introdução 

A Cannabis sativa, mais conhecida no Brasil pelo nome de maconha, é uma das plantas mais antigas cultivadas pelos seres humanos. Há, pelo menos, 12.000 anos, pessoas de todo o planeta, de diferentes países e tradições culturais fazem uso tanto das suas partes psicoativas quanto daquelas não psicoativas. Seja por suas potencialidades medicinais, nutricionais, pelas utilidades de suas fibras têxteis, de seu óleo combustível ou, ainda, por suas propriedades psicoativas, consumir derivados de Cannabis sempre foi algo natural às sociedades humanas. A mais antiga farmacopeia conhecida, o Pen-ts’ao Ching, é também um dos registros históricos mais antigos sobre o uso medicinal da cannabis. O documento foi compilado no primeiro século da Era Cristã, mas é baseado na tradição oral chinesa do Império Shen-Nung (2.700 a.C.).

Na época, a Cannabis era receitada para dores reumáticas, constipação intestinal e infertilidade feminina, dentre outras doenças. Os antigos Vedas indianos (2.000 a.C.) a mencionavam como uma das plantas sagradas que deveriam ser cultivadas e usadas com respeito. Desde essa época, a tradição indiana reconhecia as propriedades medicinais dos preparados à base da erva: propriedades terapêuticas analgésicas, anticonvulsivas, tranquilizantes, anestésicas, antibióticas, anti-inflamatórias, antiespasmódicas, diuréticas e expectorantes são apenas alguns exemplos dentre os diversos usos relatados. Nessa época, eram designados para cuidar dos jardins de cannabis os denominados paddars, homens sagrados responsáveis por todos os cuidados do jardim, desde o cultivo até a preparação do sacramento. Esses sacerdotes jardineiros eram também responsáveis por garantir que os machos fossem eliminados antes que polinizassem as fêmeas, uma das principais técnicas empregadas para assegurar uma boa produção de resina medicinal, tão antiga quanto a relação dos seres humanos com a planta, tendo sido os primeiros a fazer seleções buscando sempre melhorar as linhagens em busca de mais resina e inflorescências. A cannabis se consolidou como medicamento seguro, eficaz e barato, na China e Índia, mas, rapidamente, sua fama se espalhou por todo o mundo. Em 1.000 d.C., médicos árabes a receitavam como diurética, digestiva, analgésica e anticonvulsivante. 


Da Ásia para o Oriente Médio e África, seguiu sendo cultivada e usada para tratar doenças e aliviar os sofrimentos e dores do corpo e da alma. Em 1534, o médico naturalista português Garcia da Orta se mudou para Goa, na Índia, onde passou a estudar a medicina tradicional do povo indiano e o uso de plantas. Em 1563, publicou o livro Colóquio dos simples e drogas e cousas medicinais da Índia, trazendo os dados de décadas de seus estudos e descrições detalhadas dos vegetais de uso medicinal, incluindo os de propriedades psicoativas e, entre eles, está a cannabis e sua resina. São quatro páginas dedicadas à descrição da cultura do “bangue” e suas propriedades terapêuticas, incluindo a primeira descrição no Ocidente sobre os efeitos psicoativos referindo-os com o termo “viagens”. 

Muitos tipos de Maconha formam uma só grande família espalhada por todo planeta

No período da Expansão Marítima, houve o aumento de expedições de cunho comercial e exploratório com a participação de naturalistas, herboristas e botânicos em busca das riquezas naturais de cada nova região “descoberta”. Foi nessa época que pesquisadores passaram a se interessar em registrar e descrever as variedades de plantas e animais nativos de cada região e foi, também, quando surgiu o modelo de taxonomia binomial para classificar os seres vivos e as nomenclaturas dadas à maconha que ficaram mais conhecidas – Cannabis sativa e indica. 

Em 1753, Carl Linnaeus, que ficou conhecido como um dos principais criadores da nomenclatura binomial, publicou em seu livro Species Plantarum uma descrição da maconha nomeando-a Cannabis sativa. Poucos anos depois, em 1783, o biólogo Jean-Baptiste Lamarck encontrou no Oriente uma variedade de Cannabis bastante exótica e decidiu que era melhor dar-lhe uma classificação separada. Nascia a nomenclatura Cannabis indica e, junto com ela, o mito fundador de que a Cannabis tem várias espécies, um equívoco que perdura até hoje no senso comum e, até mesmo, entre alguns cientistas. Porém, de fato, todas as variedades de Cannabis podem ser cruzadas entre si gerando descendência fértil, não sendo, portanto, possível considerá-las espécies distintas. Do século XVIII até meados do século XX, muitos outros entusiastas tentaram nomear suas próprias “espécies” de maconha sem, no entanto, obterem a popularidade que as nomenclaturas sativa e indica conseguiram. Atualmente, a maior parte dessas nomenclaturas está em desuso, pois a planta é considerada da espécie Cannabis sativa, sendo os outros nomes mais usados como sinônimos de fenótipos da planta, ajudando os cultivadores a descreverem grandes conjuntos de características de uma linhagem. (CLARKE, 1981, p. 158). 
A partir do século XIX, a medicina ocidental descobriu a Cannabis e passou a testar suas propriedades através dos seus métodos “objetivos”. Desse período, os trabalhos mais conhecidos são os do psiquiatra francês Jacques-Joseph Moreau e do médico irlandês William B. O’Shaughnessy. Na segunda metade do século XIX, já existiam mais de cem artigos científicos sobre as propriedades medicinais da planta. Durante as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, a eugenia, um paradigma científico que se ampara na teoria evolucionista para afirmar que é importante atuar rigorosamente, de forma seletiva, na reprodução, para garantir a “evolução” das espécies, foi utilizada para justificar políticas de controle social e cultural, de cunho racista e persecutório, impostas às práticas culturais de populações consideradas “inferiores”. Dentre os maiores exemplos históricos desse uso do paradigma eugenista por parte do Estado estão as políticas de controle das populações consideradas “indesejáveis”, como judeus, ciganos, homossexuais, dentre outras minorias, durante regimes nazistas e fascistas na Alemanha e em outros países, na primeira metade do século XX. 

No Brasil, a partir de 1910, alguns cientistas como Rodrigues Dória, Francisco Iglesias e seus discípulos e colaboradores passaram a divulgar e descrever, em artigos e congressos científicos internacionais, suas teorias sobre o comportamento considerado por eles e outros eugenistas como naturais das populações de origem africana relacionando-o com os efeitos farmacológicos da Cannabis. Segundo suas teorias, no Brasil, a planta causaria em seus consumidores “degeneração mental e moral”, “analgesia/entorpecimento”, “vício/compulsão”, “loucura, psicose e crime” e esses efeitos seriam os responsáveis pelo comportamento atribuído por esses cientistas à natureza das populações de origem africana, que seriam caracterizadas pela “ignorância”, “resistência física”, “intemperança”, “fetichismo” e “criminalidade”. Essas ideias se difundiram, facilmente, no ambiente acadêmico da época quando muitos dos conceitos ligados às teses eugênicas estavam no auge de sua influência nos meios científicos do país. O álcool e outras drogas eram considerados “venenos sociais” e o hábito de consumi-los uma doença socialmente transmissível. 

A teoria eugênica da relação entre o consumo de maconha e a natureza das populações africanas foi aceita no meio acadêmico e na sociedade em geral e alcançou repercussões nacionais e internacionais. As posições do Dr. Rodrigues Dória sobre o que ele chamou de “vingança africana” podem ser resumidas no trecho que encerra sua comunicação no Segundo Congresso Científico Pan-americano, realizado em Washington, em 1915: 

A raça preta, selvagem e ignorante, resistente, mas intemperante, se em determinadas circunstâncias prestou grandes serviços aos brancos, seus irmãos mais adiantados em civilização, dando-lhes, pelo seu trabalho corporal, fortuna e comodidades, estragando o robusto organismo no vício de fumar a erva maravilhosa, que, nos estases fantásticos, lhe faria rever talvez as areais ardentes e os desertos sem fim de sua adorada e saudosa pátria, inoculou também o mal nos que o afastaram da terra querida, lhe roubaram a liberdade preciosa, e lhe sugaram a seiva reconstrutiva. (Dória, 1915, p. 37). 

Até esse período, em diferentes contextos, a cultura da maconha no Brasil fora bem aceita e até incentivada, principalmente durante o século XIX. No entanto, ao longo do tempo, a relação da sociedade civil e do Estado brasileiro com a planta sofreu modificações profundas, culminando na proibição do seu cultivo. De 1876, ano em que o Almach de São Paulo colocava o cânhamo entre as principais culturas daquele estado, a 1932, quando cultivar maconha passou a ser proibido em todo o território brasileiro, haviam se passado apenas 56 anos e, no entanto, a relação dos brasileiros com a planta Cannabis sativa e seus inúmeros usos havia se transformado completamente. A planta que todos haviam se acostumado a ver crescer em quintais e jardins, que era vendida nas feiras e consumida por suas propriedades medicinais e industriais, passou a ser considerada pelo governo como um dos grandes inimigos da nação. Sua história foi sistematicamente apagada e seus usuários perseguidos, criminalizados e discriminados até hoje. Uma planta inteira foi condenada por causa do fumo feito com as flores dos espécimes fêmeas, sobretudo por causa do preconceito com as populações negras que, tradicionalmente, o consumiam. 

Nesse processo, não só a planta ou os que a fumam saíram perdendo, mas, todos nós deixamos de ganhar com os possíveis benefícios de um mercado regulamentado e ainda sofremos, de forma violenta, as consequências da proibição e do mercado criminalizado. O cânhamo, cujo plantio e exploração eram permitidos e incentivados desde D. João VI e que ajudou a vestir, alimentar, curar, dar conforto e civilizar muitas gerações antes de nós, agora é visto apenas como maconha, a “planta da loucura”. A partir da Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) pode emitir uma Autorização Especial para que instituições de pesquisa ou empresas possam cultivá-la, desde que exclusivamente para fins de uso medicinal ou de pesquisa científica. No entanto, a proibição do uso recreativo da planta atingiu todos os seus outros usos e, hoje, é quase impossível conseguir autorização de cultivá-la para quaisquer fins. 

Até hoje o preconceito e os tabus em torno da planta e seus usos é tão grande que inviabilizam até mesmo as pesquisas que envolvam o vegetal in natura, ou que necessitem do seu cultivo para serem realizadas. Por isso, não se tem notícia de qualquer cultivo medicinal autorizado da planta sendo realizado no país. 


A popularização do cultivo com lâmpadas como consequência da Guerra às Drogas

As primeiras experiências com lâmpadas para simular a luz do sol surgiram muito antes de elas terem sido adaptadas para o cultivo de cannabis. Em 1893, o botânico Liberty Hyde Bailey utilizou lâmpadas de arco voltaico, as avós das modernas lâmpadas de vapor metálico e sódio, para testar os efeitos da radiação ultravioleta na vida das plantas. Em 1920, dois cientistas que trabalhavam para o governo dos EUA, com pesquisas sobre o cultivo de tabaco, descobriram as primeiras pistas sobre a relação do fotoperíodo com o processo de florescimento. W. W. Garner e H. A. Allard passaram, então, a classificar as plantas de acordo com sua relação com a duração dos dias e das noites. Eles descobriram que algumas plantas, como crisântemo, gardênia e poinsétia (bico de papagaio), dentre outras, só floresciam quando os dias eram mais curtos que as noites (como acontece com a cannabis); outras, como o cravo, a begônia e a aveia, por exemplo, florescem quando os dias são mais longos que as noites e um terceiro grupo de plantas, do qual fazem parte a rosa e o tomate, dentre outras, florescem independentemente do fotoperíodo, concluindo que não apenas a intensidade da luz, mas, também, a quantidade de horas a que a ela ficavam submetidas influenciava no tipo de crescimento das plantas. Essa descoberta possibilitou que os pesquisadores aperfeiçoassem o uso de lâmpadas para simular a luz do sol e cultivar plantas em ambientes artificiais. 

No início da década de 1950, o botânico Elvin McDonald começou a procurar parceiros para a criação de uma rede de interessados em jardinagem. Em 1951, conheceu a jardineira Peggie Schulz, com quem passou a trabalhar em revistas e publicações especializadas. Em 1955, Schulz lançou a obra Growing plants under artificial light, que foi o livro mais antigo que encontrei a respeito do tema. Em 1965, Elvin McDonald lançou The complete book of gardening under lights. Na década de 1960, o cultivo de plantas ornamentais com o uso de iluminação artificial virou febre nos EUA e em diversos países da Europa o que fez surgir diversas revistas populares e, também, periódicos técnicos especializados no tema. A jardinagem indoor passou a ser um hábito bastante difundido entre as diferentes classes urbanas, tornando-se comum ver salas de estar e cozinhas decoradas com canteiros de plantas iluminadas por lâmpadas. Nessa mesma época, começaram também a surgir as primeiras publicações especializadas sobre o cultivo de cannabis utilizando tais técnicas. 

No início, os principais veículos de divulgação dessa cultura eram os relatos orais. Em 1966, uma coletânea de artigos sobre cultivo da planta foi publicada sob o título How to grow the finest marijuana indoors under lights. A partir dessa época, surgiu uma série de outras publicações, principalmente em língua inglesa, sistematizando, compilando e, principalmente, divulgando e registrando as informações relacionadas às técnicas de cultivo. A partir da década de 1970, ampliaram-se os esforços de repressão ao comércio ilegal de maconha em todo o mundo, . especialmente nas Américas. No movimento, que ficou denominado como “War on drugs" (“Guerra às drogas”), diversos países do mundo começaram a colocar em prática versões cada vez mais proibicionistas da Convenção Única sobre Drogas Narcóticas, da ONU, de 1961, e intensificaram o combate ao mercado ilegal de maconha e outras drogas. No Brasil, isso se traduziu em operações de erradicação de cultivos no Norte e Nordeste do país e na intensificação da repressão ao tráfico nas fronteiras e nos centros urbanos. 

Em 1973, o governo do presidente estadunidense Richard Nixon criou a Drug Enforcement Administration (DEA), com poderes para atuar realizando revistas, escutas e visitas a domicílios sem necessidade de mandado e centralizando em nível federal todos os órgãos e agências relacionados às drogas ilícitas. Em 1975, a agência lançou uma série de atuações, buscando a supressão do fornecimento de maconha, pulverizando plantações mexicanas com o herbicida Paraquat®. Em 1979, após quatro anos de pulverizações, o Secretário de Saúde dos EUA publicou alertas, em diversos meios de comunicação, afirmando que fumar a marijuana fumigada com o herbicida poderia causar danos permanentes, câncer e levar à morte. No mesmo ano, o DEA iniciou o Domestic Cannabis Eradication and Suppression Program e as operações de erradicação de cultivos da planta dentro do país, antes restritas ao Havaí e Califórnia, passaram a ocorrer também em mais outros.

Em 1981, depois que o governo pulverizou plantações no estado da Geórgia e recebeu diversas críticas, a empresa distribuidora do Paraquat® nos EUA declarou publicamente que “a etiqueta do produto exibe a palavra ‘veneno, com uma caveira e ossos cruzados como insígnia, mas aterrorizar populações para forçá-las a mudar comportamentos sociais não está entre os usos registrados do produto’”. Após o ocorrido, a Agência de Proteção Ambiental nos EUA proibiu o comércio do produto em solo estadunidense. 

A intensa campanha do governo dos EUA fez com que as pessoas que consumiam cannabis, preocupadas com sua saúde, passassem a evitar os fumos cujas procedências ou aparências levantassem a menor suspeita de que suas origens fossem campos contaminados com Paraquat® ou outros químicos. No entanto, o consumo não parou e as pessoas que usavam cannabis tiveram apenas que inserir no seu rol de preocupações o cuidado com a procedência do fumo. Por outro lado, tais campanhas conseguiram, de fato, diminuir os canais de oferta do produto em um momento específico em que a demanda era crescente. A escassez de oferta fez com que os cidadãos dos EUA passassem a buscar no cultivo da planta colheitas que lhes permitissem ficar independentes do mercado fornecedor. A partir da década de 1970, as informações sobre cultivo de cannabis passaram a ser publicadas com maior frequência e intensidade. Em 1974, foi fundada, nos EUA, a High Times Magazine, primeira revista especializada em cultura canábica editada até hoje. Diversos outros guias de cultivo, citados na bibliografia, também foram publicados nesse período.

Essas obras criaram um meio físico de divulgação para os saberes relacionados ao cultivo da planta até então transmitidos apenas oralmente e ampliaram as fontes de consulta para milhares de leitores. Embora sempre tenha existido a cultura da maconha há milhares de anos, somente no início na década de 1960 os usuários começaram a redescobrir os saberes sobre o cultivo da planta. Nesse movimento, diversos conhecimentos relacionados com a botânica, a agricultura e outras ciências têm sido resgatados e difundidos, de forma massiva, através de livros, revistas, sites e outros veículos, um fenômeno que alguns autores têm chamado de "cultura ultramoderna da Cannabis" e a ONU tem chamado, em um tom alarmante, de “reengenharia da Cannabis”, ou ainda “redescoberta da maconha sem sementes". 

Até a década de 1970, o empreendimento de cultivo com lâmpadas era considerado muito dispendioso, pois as variedades que cresciam no México, Jamaica, Colômbia e outros países da América do Sul não se desenvolviam muito bem na maioria das regiões dos EUA e não eram muito adaptadas aos cultivos indoor já que necessitam de muita iluminação, mais espaço e um maior tempo de maturação das flores. Nesse período, hippies que viajavam por países como Marrocos, Paquistão, Afeganistão, visitando comunidades das regiões que ficaram conhecidas como The hashish trail, levaram para os EUA sementes de variedades indica, cultivadas, tradicionalmente, há dezenas de gerações. A partir dessas sementes selecionadas, os cultivadores passaram a fazer cruzamentos entre as diversas variedades que tinham à mão, obtendo espécimes sui generis, que mantinham características de ambos os fenótipos, indica e sativa. Com o tempo, os cultivadores desenvolveram linhagens da planta mais adaptadas ao cultivo indoor, com características como floração densa, alta produção de resina e ciclo de vida curto, juntando o “melhor” da indica e da sativa. Nesse período, foram desenvolvidas variedades como Skunk, Big bud, Haze, Califórnia orange e Northern lights, dentre outras, ganhadoras de diversos festivais de colheita e base para variedades muito valorizadas no atual mercado legal de sementes.

Só para se ter uma ideia da variabilidade genética da Cannabis, em 2003, o mercado contava com mais de 450 variedades registradas das quais muitas com origens genéticas em plantas nativas de países como Jamaica, Colômbia, México, EUA e Brasil, além de países da Ásia e África. Muitas linhagens nativas ou landraces, têm origem em países onde o cultivo da Cannabis é bastante reprimido. No entanto, os espécimes mais apreciados pelos criadores são provenientes de landraces, porque guardam possibilidades genéticas ainda não exploradas. O exemplo do Brasil pode ilustrar bem o caso de paí- ses com políticas repressoras que exportam qualidade genética sem que a maioria dos seus cidadãos sequer imagine. Variedades como Bahia Black Head, Black Widow, White Widow, El Niño, Leda Uno, Medicine Man, White Shark, Great White Shark são apenas alguns exemplos de marcas registradas em propriedade de bancos de sementes holandesas, ganhadoras de prêmios internacionais, que têm origens genéticas em plantas nativas brasileiras. 

Tudo o que os cultivadores do período da “redescoberta” fizeram foi utilizar o maior número de técnicas agrícolas já existentes, adaptando-as às especificidades botânicas da Cannabis. Mas eles precisaram fazer isso por conta da intensa repressão a todas as formas de cultivo. A necessidade de usar cultivos com lâmpadas impôs novos fatores a serem considerados na seleção dos espécimes que iriam ser reproduzidos e, nesse processo, as experimentações com diferentes linhagens da planta resultaram em variedades cada vez mais adaptadas às condições desse tipo de cultivo. Mas todas as técnicas já existiam, foram apenas procuradas por uma população cada vez mais reprimida no seu acesso a maconha medicinal. Se hoje há uma intensa produção e difusão do conhecimento a respeito das diferentes técnicas e maneiras de cultivar maconha com o sol ou usando lâmpadas é consequência direta da repressão ao seu uso. 

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